quarta-feira, 30 de dezembro de 2009


Ano Novo! Yay!

NOT!

Todo mundo tá filiz mas eu não hahaaha tou suave, estar suave é melhor que estar feliz no meu conceito. Esta aqui é mais uma tentativa que provalvelmente ira lograr de ressucitar este blog, eu tenho uma preguiça sacal de escrever , mas vamos lá ao real motivo deste blog

em primeiro lugar é pra falar de alcóol e musica e musica etilica ^^
em segundo lugar é pra falar de cinema, de uma forma leiga pq eu sou leigo e mto mais esquizofrenicamente eclético ou seja sim eu vou falar de Cinema Paradiso e depois de filmes do Sam Raimi ou do Tarantino o de hj é o Edukators!

Ética da resistência.


Acabo de assistir ao filme Edukators (2004 – Die Fetten Jahren sind vorbei), um filme alemão muito aclamado que ficou famoso aqui no Brasil, mas que eu sempre deixava de canto na minha lista de filmes “a assistir” por achar que seria apenas mais um filme piegas pseudo-intelectual. Em parte, acho que a culpa desse estigma é do título que o filme recebeu aqui no Brasil.

Como eu já esperava, o filme não traz um debate filosófico/sociológico profundo, nem pode ser considerado genial ou obra-prima. Se fosse, muito provavelmente não teria feito tanto sucesso. Também não há nada de verdadeiramente surpreendente na narrativa ou desenlace do enredo, mas, ainda assim, é um ótimo filme e faz jus à atenção que recebeu.

O filme tenta chamar a atenção do espectador para a angústia dos jovens da atualidade, que vivem em um mundo onde a revolução já foi intentada de diversas formas e falhou em todas, um mundo onde o capitalismo prevaleceu e parece não haver mais espaço para qualquer idealismo, um mundo onde a juventude não encontra vazão para as suas angústias e, além do mais, parece estar cercada por ceticismo e conformismo.

Sendo eu mesmo um jovem, senti-me particularmente afetado pelo sentimento que o filme busca passar. Em nossa sociedade parece não haver de fato qualquer espaço para mudança outra que não seja a mudança conforme as regras do sistema. O idealismo e a utopia são vistos pelos próprios jovens como demonstrações de imaturidade. O questionamento ao sistema tem ares de anacronismo. O pensamento crítico parece ter sido incorporado pelo sistema vigente como um modo de dar vazão à energia que, se melhor focada, poderia de fato abalar as bases de nossa sociedade.

Em um dos diálogos do filme, um dos protagonistas, Jan, faz uma alusão à Matrix. Isto me fez pensar no papel da Oráculo. Para quem já não se lembra, a Oráculo foi a solução semi-ideal encontrada pelas máquinas para dominar o cérebro humano. Após muitos insucessos, os computadores perceberam que a dominação absoluta e opressiva tendia ao fracasso, ao passo que se fosse dada aos humanos a chance hipotética da idéia de rebelião, muito poucos seriam aqueles que de fato a intentariam e sua rebelião jamais teria o condão de ameaçar o sistema. Em outras palavras, a rebelião era orquestrada pelas próprias máquinas através de um de seus softwares, especialmente desenvolvido para estimular a crença de que era possível um outro mundo. A revolução foi incorporada ao sistema.

Apesar de muitos acharem Matrix um outro blockbuster da mesma família de Lord of the Rings e Star Wars que apenas usa algumas citações em latim para parecer cult, eu acho que essa trilogia, diferente das outras, aborda marginalmente algumas idéias interessantes, da mesma forma que o filme Edukators o faz.

A revolução é possível?

Essa pergunta já é batida e cada um tem seu palpite baseado em o que quer que seja. Eu creio que parte da resposta está em saber a resposta para outra pergunta: queremos uma revolução? Ou então, quem quer revolução?

Minha opinião é que, em grande parte, as revoluções esquerdistas sempre fracassaram porque sempre foram poucas as pessoas que a desejaram. Não somente, mas parece pouco provável que um dia consigamos inverter as proporções entre os acomodados (ou indiferentes) e os incomodados. Apesar de ser verdadeiro afirmar que existe somente uma minoria que se beneficia de fato do sistema, não é verdadeiro afirmar que a maioria a que aqueles se opõem está incomodada com as regras do jogo. O capitalismo é um sistema ideologicamente forte porque diferente dos demais ele sabe transmitir sua ética de forma quase hegemônica dentro da sociedade. As pessoas que não estão no grupo de elite não sonham com uma outra sociedade, elas sonham em fazer parte da elite.

M. Foucault, filósofo francês que tem presentemente me fascinado, descreveu ao longo de sua obra as complexas relações quotidianas diretas entre o poder e o saber, e como o poder é exercido dentro da sociedade através dos diferentes discursos (saberes, idéias, conhecimentos) que se disseminam através do grupo. Em particular, em um capítulo de livro Surveiller et Punir (em português traduzido como “Vigiar efoucault Punir”), descreve como em nossa sociedade o poder disciplinar organizou as massas e dilapidou os corpos, tornando-lhes fortes e aptos para o trabalho, porém desprovidos da capacidade de utilizar esta força de outro modo que não para manter a estrutura. A obra é magnífica, extremamente complexa e de difícil compreensão, porém, acho particularmente interessante perceber o quão eficaz é essa disciplina dos corpos e enfraquecimento das mentes.

A todo tempo funcionam ao nosso redor mecanismos que buscam captar nossa atenção para evitar que empenhemos nosso tempo e energia de forma livre. No filme, Jan alude a esta idéia falando da TV. De fato a tv tem um poder de anulação impressionante, mas eu acho que ele é enfraquecido por ser muito evidente. Menos evidente parece-me o poder de enfraquecimento que tem nosso sistema educacional, o modo como nos acostumamos a obter o conhecimento, dentre muitas outras coisas. Aprendemos que a instrução é item basilar para a inserção social. Por isto, desde muito cedo freqüentamos escolas, cursos de idiomas, cursos de vestibular, cursos para concursos, curso para culinária, curso para photoshop, escola de futebol, escola de esportes, curso de informática, curso de excel, curso de fotografia, curso de gerenciamento de recursos, curso de cinema, curso de programação, etc.

A lista tende ao infinito. Pode-se achar em uma metrópole pelo menos cinco lugares diferentes onde se pode conseguir apostilas e um curso de curta duração para qualquer coisa que você quiser, desde jardinagem até física quântica. Até mesmo nossas universidades aderiram ao modelo. Os cursos universitários são formulados do mesmo modo que o demais dos cursos. Uma cúpula de entendidos traça o programa ouedukators2 roteiro que as aulas, disciplinas ou matérias devem seguir, quais temas e assuntos devem abordar e qual o enfoque deve ser dado. Não somente, mas os próprios alunos clamam por professores que estejam antenados com o “mercado” e saibam transmitir de forma indolor tudo o que se precisa saber para conseguir se inserir. O conhecimento mercantilizou-se e é produzido e disseminado através da lógica do mercado, através da escala.

Não existe espaço para a iniciativa individual. As pessoas conformaram-se com a postura passiva e orgulham-se de conquistas passivas. O ideal de muitos tornou-se conquista um título, seja ele acadêmico,profissional, mobiliário ou imobiliário. Todos emblemas de conquistas passivas e prêmios dados, não construídos. Nesse sentido é emblemático o conceito de pró-ativo trazido diretamente do mundo do business. Num primeiro momento, parece que o sujeito pró-ativo seria o oposto do sujeito passivo. A verdade é exatamente o inverso. O sujeito pró-ativo é justamente o ideal da passividade. O pró-ativo nada mais é do que aquele que busca por si mesmo fazer o que se espera que ele faça. Toma a iniciativa em cumprir bem um papel pré-moldado.

Particularmente, não acredito em revolução que não seja a individual. A saída da ação individual, contudo, parece-me distante daquela idealizada por Jan. Não creio que a solução de modo algum esteja em chamar a atenção para os erros dos outros através do medo. Devemos sempre lembrar que a ética dominante sabe lidar bem com as ações rebeldes e faz com que rapidamente elas soem ao público geral, imerso em um transe coletivo, absorva a situação como terrorismo ou vandalismo, sem jamais parar mais do que 30 seg para pensar em uma mensagem ou em um porquê.

Muito pelo contrário, creio que a saída encontre-se na resistência individual, na conjunção de esforços individuais. Se queremos mudança, e lembre-se, somos poucos, devemos construí-la. Para construí-la, o primeiro passo é rejeitarmos os modelos. Não se pode construir nada verdadeiramente novo a partir de premissas velhas. Assim, o começo, para mim, encontra-se na busca individual por libertação e o cerne da libertação encontra-se no conhecimento e na maneira como o recebemos, o trabalhamos e o repassamos.

Os hackers chamariam a isto de tinker, os samurais chamariam de budo (ou caminho do samurai), C. G. Jung chamaria de individuação e a sociedade em geral chamaria de autodidata, todos conceitos irmãos para a idéia latente de busca individual de superação e aprimoramento. Entendo que esta idéia se transmite melhor pela expressão “ética da resistência“, do que por qualquer das anteriores. Não acredito na revolução coletiva, porque não acredito que seria possível, nem correto, convencer, doutrinar, catequizar outras pessoas que são indiferentes a aderir ao ideário emancipatório esquerdista. A revolução para mim parece ser somente individual, sendo coletiva apenas quando sua ética de resistência se transmite e se transforma por si mesma através de novos indivíduos batalhando suas próprias revoluções, seu próprio aprimoramento, sua própria liberdade.

É difícil e angustiante tentar acreditar em mudança em nossos dias, mas acho que não existe nada mais mórbido do que o simples conformismo. Nesse sentido o budo nos traz uma grande lição: o budo não é a vitória ou a conquista do samurai, é o caminho. O objetivo de um samurai não é vencer, mas caminhar. Como já bem ilustrou M. Kundera na primeira página de Nesnesitelná lehkost bytí (A Insustentável Leveza do Ser), não se pode garantir que um seja melhor do que outro, não se pode garantir a conquista de um objetivo final, mas pode-se garantir que o caminho seja bem trilhado.

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